Saturday, January 20, 2007

Confirma então, senhora Thatcher, que cultivou durante algum tempo uma relação de amizade com o general chileno Augusto Pinochet? Sim, confirmo.
Como definiria a relação que tinha com ele? Produtiva.
Que produto obteve então? Algum apoio estratégico.
Fala do conflito das Malvinas? Sim, é dele que falo.
Em que consistia então esse “apoio estratégico”? Enquanto decorria a Guerra das Falkland, da qual a Grã-Bretanha saiu vitoriosa, foram-nos fornecidas preciosas informações que nos permitiram vencer o conflito.
A que tipo de informações se refere? Informações militares, essencialmente.
Concretize, por favor, senhora Thatcher. As nossas forças eram prevenidas dos ataques inimigos.
E de que forma, senhora Thatcher? Dado que o Chile e a Argentina tinham vivido uma disputa pela Terra do Fogo, vigiavam-se mutuamente. A Grã-Bretanha limitou-se a aproveitar o facto de o Chile ter radares apontados ao espaço aéreo do nosso inimigo. Sabendo as alturas em que a aviação argentina descolava, podíamos actuar preventivamente.
Confirma então que o general Pinochet colaborou na vitória da Grã-Bretanha? Sim, confirmo.
Como qualificaria a importância dessa colaboração? A colaboração do general Pinochet foi muito importante para a vitória da Grã-Bretanha.
Arriscaria dizer decisiva? Foi muito importante, sublinho.
Senhora Thatcher, que reflexo teve então essa colaboração na sua relação pessoal, agora com o senhor Pinochet? Nunca desenvolvemos uma relação pessoal muito íntima.
Por que se manifestou “profundamente entristecida com a sua morte? Ora, isso são afirmações convencionais aquando da morte de alguém.
Acrescentou ainda que tencionava enviar à família do senhor Pinochet uma mensagem de “profundas condolências”. Sim, é verdade.
Esta manifestação de pesar tem relação com o apoio militar de que falávamos há pouco ou não, senhora Thatcher? Sim, tem algo que ver com esse apoio.
Sabe, senhora Thatcher, depois das eleições de 11 de Dezembro de 1989, o seu amigo, depois de ter assegurado a liderança militar do país a que antes presidia dirigiu-se ao novo presidente, Patrício Aylwin, perguntando-lhe como estavam os seus joelhos. Pinochet acabou por recomendar ao presidente Aylwin que tivesse cuidado com os joelhos, porque “quando os subordinados vêem que falham os joelhos ao comando, sobem-lhe às barbas e esse é o princípio do fim”. Concorda? Há algum fundo de verdade nessas declarações, uma liderança forte agiganta um país.
Vê algum tipo de semelhança entre este tipo de procedimento político e a sua governação? Sim, há que ter alguma força moral para alcançar os objectivos da governação.
O epíteto “Dama de Ferro” que lhe colocaram os soviéticos pela sua forte oposição ao comunismo, funcionaria também como metáfora da sua actuação política? Posso reconhecer que sim.
Reconhece que foi pela acção do general Pinochet que morreram ou desapareceram três mil pessoas, trinta mil foram presas e torturadas e que quantias significativas foram depositadas num banco americano, provenientes de desvios fiscais e do tráfico de armas? Sim, reconheço.
Mantém então a sua declaração de amizade? Sim, a ajuda deve ser sempre reconhecida.
Senhora Thatcher, alguma vez ponderou, durante a sua governação, colocar os Direitos Humanos, a democracia, a civilização, acima dos interesses particulares de uma nação? Sim, mas as circunstâncias são por vezes mais determinantes que os princípios.
Muito obrigado, senhora Thatcher.

(Edição on-line do DN Jovem, 19 de Janeiro de 2007)

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